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    domingo, 14 de julho de 2013

    O dia em que eu atropelei um cão.

      Pois é, o que eu nunca pensei que acontecesse comigo, aconteceu.
    Ontem, em um querido sábado (a) noite eu finalmente decido sair um pouco de casa e tomar algum ar lá fora. 
    Como não tinha nenhum rolê em mente, decidi sair com a minha irmã e a Jéssica para Av.Nova só para comer algo, beber um refrigerante e botar o papo em dia. Chegando lá, encontro meu querido amigo Vítor com uma amiga e um amigo, então, juntamos a mesa, conversamos, e comemos.
      Algumas horas depois, fui cortejada pelo fofo do amigo do Vítor, e até ganhei uma rosa branca. (Difícil eu ganhar flôr, mas acredite galera, de vez em quando acontecem algumas surpresas). Nos despedimos lá perto da 1:00 da manhã, deixei a Jéssica em casa e voltei para minha 'home' com minha irmã.
      Há uns 80m de casa, uma das piores coisas que poderia ter acontecido comigo, aconteceu! E uma das coisas também que jamais pensei que eu fosse passar... Passando pelo radar de 40km/h do lado do meu prédio, 3 cachorros de rua atravessavam (a) avenida, e um deles ficou, porém, com o cachorro da cor da rua e ficado no chão, eu não o vi, e o atropelei. Bom, na verdade, ele me atropelou, mas cachorro é indefeso, o que podemos fazer? Se não fosse pela irmã do lado ter gritado "AAAAAAAAAAH" depois do ocorrido ter acontecido, eu não teria percebido, e não teria parado o carro. Eu iria pensar que foi um dos vários buracos que tem na avenida de casa ou uma lombada nova, porque nem ouvir o grito do cachorro na hora eu ouvi.
    Quando minha irmã gritou, eu já pensei na hora:
    - Não é um buraco.
    E perguntei pra ela quase chorando já:
    - Eu não atropelei um cachorro, atropelei?
    Ela acenou que sim. Pisei no freio e deixei o carro há uns 30 metros do acidente. Com o coração acelerado e suando pelo corpo inteiro eu sai do carro para ver qual era a situação do bichinho, torcendo em lágrimas que ele não estivesse morto, que o pior não tivesse acontecido.
      Desci do carro, e vi um dos outros cães que segundo a minha irmã estava acompanhado dele latindo em volta dele como se chamasse por socorro (mãe, irmão, pai, não sei), mas o desespero do cão com o que foi atropelado foi tanto, que eu fiquei com mais vontade ainda de chorar.
      Quando eu vi o cãozinho latindo/chorando só com uma perna machucada e sem sinal de sangue aparente, desci a ladeira correndo e pedi para minha irmã descer para me ajudar. A princípio ela não queria com medo que ele tivesse morto, ela iria passar mal. Mas logo quando ela viu que eu estava lá e chegou algumas pessoas para ajudar, ela foi fazer sua parte. Ficamos lá uns 40 minutos, tentando pensar no que fazer. No começo tentamos tirar o cãozinho do meio da avenida, porque é bem movimentada, mesmo sendo na madrugada. Acenávamos principalmente para os ônibus que passavam entrar um pouco pela contra mão, se não de fato acertariam o cãozinho. Mas com mais pessoas chegando, a sinalização ficou melhor. Ele estava LITERALMENTE no meio da avenida.
      O cãozinho devia pesar uns 20 kg, não era leve, e não sabíamos se mordia.Enrolamos ele em um pano, ele babava muito. Estava decidida a levar ele no veterinário que costumo levar o meu gato, não importa o custo. Pensando que não custaria mais do que 600,00 que é o que eu tenho atualmente na conta para passar o cartão no débito... 
      Com a rua toda babada, começou a chegar algumas pessoas mais e mais, tinha no máximo umas 8 até então. Liguei para minha irmã e meus pais correndo e eles desceram e foram me ajudar. Pegamos o cadarço do tênis da minha outra irmã que desceu e amarramos a boca dele para poder remover ele para o carro sem o risco dele morder qualquer um.
    Quando alguém tentava removê-lo do chão, ele ameaçava morder, mostrando que estava com dor quando o mesmo o tirava do chão. Eu comecei a chorar loucamente nessa hora vendo que o bichinho tava com dor.
    Quer dizer, eu nunca nem bati o carro e atropelei um CACHORRO? Eu tava desesperada. Imaginem essa situação acontecer com vocês. Agora multipliquem um caso bem mais complicado, porque eu sou muito emotiva, isso ficaria na minha consciência para sempre e eu fico com remorso, choro por tudo, choro de ver uma pessoa sendo mal tratada, choro horrores vendo um atropelamento, ainda mais sabendo que eu fui "a culpada", ou enfim . . . . Com o cadarço na boca foi mais fácil, colocamos ele no porta mala do carro e eu, meus pais, minha irmã mais nova e meu cunhado fomos para o veterinário 24 horas, um dos que conhecíamos.
      Chegamos lá, e fomos atendidos prontamente. Aparentemente estava tudo ok, deram uma injeção para amenizar a dor e eu chorando há mais de 2 horas... Hoje acordei com os dois olhos roxos de tanto chorar.
      Deixamos ele internado por um dia, para o médico fazer os exames que precisava. Ele queria saber se tinha afetado a bacia, ou quebrado alguma vértebra. A matemática é bem simples, e ele nem precisava dizer: Se fosse a bacia, tudo ok. Ele se recuperaria e voltaria a andar. Se fosse a vértebra, a coisa seria mais complicada e ele não voltaria a andar, ou ficar em pé. (Imaginem a minha dor no coração). Chorei loucamente na sala de espera, e o médico me trouxe a conta da internação, da consulta e tudo mais: Adivinhem? 780 reais. SETECENTOS E OITENTA REAIS.
    Foda-se, eu não estava nem aí, peguei o meu cartão e pedi para passar em 4x, eu só queria que o bichinho ficasse bem. Porém, tinha outro problema. Ele só poderia ficar 24 internado, cada 24 horas era 220,00, não podia pagar outra internação. E onde o cãozinho ficaria depois? Eu moro em apartamento, cachorros não são permitidos, e além de tudo, já tenho um gato.
    Sem contar que não sabia o histórico do cão, nem se era macho/fêmea, provavelmente não era vacinado, e enfim... Simplesmente não dava. Claro que se a casa fosse minha e dependesse somente de mim, eu com certeza ficava com o bichinho, até ele sarar 100% e eu poder achar alguém que pudesse cuidar dele melhor do que eu. Mas infelizmente eu não me sustento sozinha e não mando no meu lar, infelizmente não tinha como.
    Pensamos em várias possibilidades, mas sabemos que é muito difícil achar alguém com braços abertos para uma situação dessas. Claro que tem muitas pessoas como eu que se dependesse somente delas, elas o fariam, mas muitas não o fazem, e não consigo entender o motivo. Muita gente compartilha coisas de animais feridos no facebook, mas não levantam a bunda para ajudar em nada, só compartilhar não salva uma vida, não ajuda um animalzinho. Se quer fazer algo, adote um, doe dinheiro para alguma ong, se voluntarie para algo, tire os animais da rua e para de perder seu tempo compartilhando algo que não é você, que você não faça. Não é bacana, e você não se torna uma pessoa boa com uma passagem para o céu se fingindo de boazinha, ou interpretando a boazinha.
    As suas ações contam pelas atitudes que você toma, pelas coisas boas que você faz e não divulga. 
    "Ah Natascha, mas você está divulgando algo bom que você fez ontem com o cachorro".
    Não, o meu caso é diferente. Eu não fiz nada de bom, eu não fiz nada além da minha obrigação. Fiz o MÍNIMO que eu podia fazer. Ou se fosse você, trocaria para a próxima marcha do carro e deixaria o cão ali, para virar comida de pombo? Não é possível que o coração humano seja tão covarde e impiedoso a ponto disso.
    E fico imaginando, se tem gente que faz isso com animais, imagina aqueles imbecis que atropelam gente e fogem. Sendo sua culpa ou não, a primeira coisa que você precisa fazer, é descer e prestar socorro. Pode não ter sido proposital, ou nem ter sido você a causa do acidente, mas foi a sua roda que passou em cima de uma pessoa. Então... Eu não consigo entender, de verdade. Eu não me imaginaria dormindo (a) noite pensando que eu deixei um ser vivo apodrecendo, quebrado, que eu poderia ajudar e não o fiz. Como a consciência de muita gente aguenta e não arrebenta? Impossível imaginar!
      Bom, pensamos em deixá-lo na viela aqui do lado da avenida, onde ele tinha um pessoal que colocava água e comida para ele, e onde ele tinha a mãe dele. (Sim, ELE, depois descobri que era um macho). E no dia seguinte o levaríamos para uma veterinária que normalmente pega bichinho, isso se ele voltasse a andar...
    Liguei para o veterinário logo que acordei, e ele falou que ele estava estável. Suspirei de alívio, e disse que (a) noite iria buscá-lo.
    Busquei ele, ele estava bem mais calmo, e estava bem. Só um pouco manco na verdade. E o problema era na bacia :'))))) Só que a bacia não costumam mexer, o próprio corpo vai se regenerando, e curando, e que ele até já estava dando passos e tudo mais.
    Pegamos ele, colocamos no porta malas e procuramos uma viela tranquila, perto da avenida que ele costumava ficar... Logo que conseguimos tirá-lo do carro, ele já andou rapidamente até o local que costumava ficar, e o outro cachorro ficou feliz da vida ao ver ele. Soltei um sorriso e me senti bem de ter feito a minha parte.
      É algo que vai me marcar e vou contar aos meus filhos e meus netos, mas sempre sabendo que eu consegui salvar a vida do bichinho a qual tirei a vida.
    Feliz que tenha dado tudo certo, e nunca estive nem aí com o dinheiro que gastei como nessa situação.
      O bem estar da alma, dinheiro nenhum corrompe.

      Só espero nunca mais passar por uma situação agoniante como essa. E fizer sempre o que eu puder para ser sempre quem eu fui, sou e continuarei sendo.

    O cãozinho está ótimo, não foi quase nada grave, mas poderia ter sido. E olha que eu nunca bebi e dirigi. Por isso, você que o faz, pense 2x lendo esse texto, lendo outras histórias e tudo mais! O estrago será sempre pior, e você pagará muito mais, com a justiça e sua consciência.

    M o v e  o n!



    @nati_nina

    Um comentário:

    1. Incrível. Eu realmente já admirava você, agora admiro, respeito e amo, por essa atitude. Não sei se teria na verdade dinheiro para fazer o que você fez, mas faria se tivesse também. Mas sei lá.

      Incrível. Parabéns. Acredite, tudo que vai, sempre volta. E voltará pela sua atitude em dobro e bem melhor para você!!!!!!

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    @nati_nina

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